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#PERNAMBUÉSEMFOCO - TALENTOS DE PERNAMBUÉS REDEFINEM A ARTE PERIFÉRICA

Atualizado: 5 de jul. de 2023


DJ Bruxa Braba tocando
Foto: Lua Anjos

Entrevista com Bruxa Braba: Transformando Vibrações: A DJ Bruxa Braba e a magia de sua expressão artística!



Nesta entrevista exclusiva com a DJ Bruxa Braba, mergulhamos na vida e na jornada dela, uma mulher negra, periférica e LGBTQIA+ que utiliza sua arte como forma de expressão política e racializada. Ela compartilha suas experiências, desafios e lutas enfrentadas na busca por igualdade de oportunidades na indústria da música, mostrando o impacto e a importância de representatividade e resiliência. Uma conversa inspiradora e impactante sobre a força da criatividade e da voz marginalizada.

Confira a seguir:



Quem é Bruxa Braba?


Mônica Sena, 29 anos, leonina ascendente em aquário, Dj, pesquisadora musical, ativista social, artista criativa, nascida e criada no bairro de Pernambués, que tem como base musical e de filosofia de vida o Hip-Hop.


Como tudo começou?


Minha paixão pelo rap e suas vertentes me levou a explorar a discotecagem em bailes e batalhas de hip-hop. Fui convidada por Alan, idealizador do coletivo Afropabho, para tocar em uma festa LGBTQIA+ chamada “PVT das Pretas”. Aceitei o desafio e criei uma selecta de músicas desde Rihanna e Jay-Z até Ghetto é Ghetto e Bonde das Maravilhas. Os convites para tocar não pararam desde então. Após, procurei Dj Jarron, da Scratch School, onde aprendi a manusear os equipamentos, isso se tornou a melhor decisão da minha vida.


Quais histórias ou narrativas sua arte busca retratar?


Na posição de mulher negra periférica e Lgbt, comunico minha arte de forma racializada e política. De como me expresso visualmente, como me posiciono no mundo e no sonoro não seria diferente… Tento fazer com que o público ouça música preta, cantada por pretos! Músicas originárias da periferia, da diáspora africana e todo movimento que é marginalizado do mundo underground!!

Meu trampo retrata o que eu sou, de onde eu vim e o que meus semelhantes semearam e estão criando atualmente.

Quais são os principais desafios enfrentados pelos artistas que vivem e trabalham em áreas periféricas?


Ser nascida e criada dentro de uma favela é desafiador todos os dias, desde questões geográficas, de saúde, segurança etc… Criar e me movimentar inserida no “caos urbano” é o maior desafio da minha construção profissional, já trabalhei em telemarketing, shopping, escritório… Mas o impacto que recebi ao perceber que teria que me esforçar MUITO mais pra tentar uma utópica equidade de oportunidades dentro dessa indústria da arte, foi a coisa mais frustrante que já passei, é nítida a desigualdade e injustiça. O mercado da arte romantiza a nossa criatividade, nossa forma de expressar arte (que muitas vezes por necessidade) gírias, danças, vestimentas, tendências originais, nosso talento… Mas não nos recompensa de forma justa, diante de todo esforço físico e psicológico que artistas periféricos dentro de outras minorias enfrentam no cotidiano.



DJ Bruxa Braba tocando
Foto: Reprodução

Existem recursos ou programas específicos que você acredita que poderiam ajudar a promover e valorizar os talentos de Pernambués?


Existe a nossa comunidade de artistas e pessoas que acreditam que a arte salva, que com pequenos movimentos muda a perspectiva de muitas pessoas. Acredito que com mais investimento financeiro em projetos de arte educativa dentro da comunidade e projetos de formação profissional para artistas emergentes, promova a valorização desses talentos e faça com que mais pessoas tenham o básico: uma estabilidade financeira pra ter o mínimo de bem estar pra desenvolver melhor seu trabalho.


Como Pernambués influenciou/influencia na sua arte?


Musicalmente falando, Pernambués me influenciou totalmente , desde criança (por osmose) ouvia Racionais, mv bill, olodum, Alcione, arrocha, pagodao, lambada, reggae… Colecionava muitos cd’s e dvd’s principalmente aqueles 99 clipes Hip-Hop. Não tinha muitos recursos e distrações, música sempre foi o meu escape (amigos já diziam que minha cabeça era uma biblioteca musical kkkkk). E hoje em dia continua influenciando pois temos a cultura dos paredões, na minha rua geralmente tem aos finais de semana, tenho uma pesquisa musical direto da fonte, de forma orgânica e as vezes sem nem sair de casa.


Quais são as diferenças você enxerga entre a arte produzida nas áreas periféricas e a arte produzida nas áreas nobres?


Não tem como competir com o capitalismo, ou você faz o que tem que fazer ou tenta jogar o jogo deles.


Como a falta de recursos e infraestrutura nas áreas periféricas impacta a produção e a difusão da arte?


Essa falta de recursos e infraestrutura dentro de uma favela acredito que impacta diretamente na vida de artistas e dos seus consumidores também. Geralmente pessoas que trabalham com a criatividade não tem tempo para investir em sua arte porque acabam tendo que trabalhar de outra coisa pra poder se sustentar (isso vira um ciclo).

O público também não tem tanta disponibilidade pra apoiar porque de alguma forma também tá sofrendo todos os impactos sociais de quem foi condicionado a nascer e viver dentro desse caos.

Sendo assim todos são manipulados por esse sistema composto por pessoas que investem milhões pra que o produto seja comercializado e chegue até você muito mais rápido, que faça com que artistas independentes se frustrem com os “falsos algoritmos” (os resultados não chegam nos bolsos nem na mesa do almoço) e o público sem tempo de qualidade pra ter consciência do que tá consumindo, acabam dando streaming e + dinheiro pros herdeiros (a branquitude).

Acredito que não precisamos de migalhas, precisamos de reparações políticas dentro de cada comunidade… Uma vida humanizada né?! Temos o direito de viver e não só sobreviver.


A arte salva vidas!



Esse é o quinto e ultimo episódio da série de entrevistas #PernambuésEmFoco que tem como objetivo destacar a jornada artística de talentos do bairro de Pernambués, e trazer à tona os desafios enfrentados pelos artistas que vivem em áreas periféricas. A entrevista busca promover a valorização dos talentos locais, ressaltando a importância de investimentos, programas e políticas públicas que possam impulsionar o crescimento e reconhecimento dos artistas periféricos.



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