Patinetes elétricas em Salvador: os cuidados para que a solução não se torne o problema

A chegada das patinetes elétricas à orla de Salvador trouxe novas possibilidades de deslocamento, mas também desafios para a segurança dos pedestres e a organização do trânsito. Como equilibrar inovação e responsabilidade nas ruas da cidade?

Foto divulgação

Se você costuma andar pela orla de Salvador, já precisou desviar de uma.As patinetes elétricas, com suas cores vibrantes e design moderno, tornaram-se presença constante entre o Rio Vermelho e o Porto da Barra, espalhando-se por toda a orla.

Elas deslizam silenciosas, muitas vezes surpreendendo os pedestres, que, em um reflexo rápido, desviam para evitar colisões. O que antes era apenas uma opção de lazer aos finais de semana agora se tornou um modal de transporte dentro do projeto de mobilidade da Prefeitura de Salvador.

Uma alternativa de mobilidade urbana

A chegada das patinetes da JET Brasil à capital baiana trouxe a promessa de uma mobilidade mais sustentável e prática. Com uma frota inicial de 300 unidades disponíveis para locação há mais de um mês, esses veículos oferecem uma alternativa ao trânsito caótico da cidade.

Equipadas com sistema de freios, campainhas e sinalização noturna, as patinetes possuem controle de área de tráfego e limite de velocidade de até 20 km/h, configurados por GPS, em conformidade com as leis de trânsito. Além disso, antes de cada viagem, os usuários recebem orientações por meio de vídeos explicativos sobre o uso adequado, incluindo informações sobre estacionamento e segurança.

Foto: Otávio Santos

Os desafios da implementação

Apesar das vantagens, a adoção das patinetes elétricas tem gerado desafios. As calçadas de Salvador, muitas vezes estreitas e irregulares, tornaram-se palco de disputas entre pedestres e usuários do modal.

O que já era difícil para o pedestre, ficou pior, agora que precisam dividir o passeio com usuários de patentes. Além disso, não é raro ver grupos de jovens frequentemente descendo em alta velocidade por vias urbanas, muitas vezes próximos aos carros, aumentando o risco de acidentes.

A falta de infraestrutura adequada, como ciclovias e ciclofaixas, agrava ainda mais a situação, forçando uma convivência perigosa entre diferentes modais de transporte.

A legislação brasileira ainda está se adaptando à nova realidade. O uso de capacete, por exemplo, é recomendado para aumentar a segurança dos usuários, mas sua obrigatoriedade varia conforme a cidade. Em Salvador, durante o período de testes de 90 dias, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) está coletando dados para avaliar a aceitação do serviço e ajustar sua operação às necessidades locais.

Ao final desse período, os dados serão utilizados para subsidiar a Semob na realização de um credenciamento futuro, permitindo que outras empresas do setor possam operar na cidade.

O que outras cidades aprenderam

Cidades ao redor do mundo enfrentam desafios semelhantes com a implantação das patinetes elétricas.

• Valência, Espanha: Em 2024, foram registrados mais de mil acidentes envolvendo patinetes, um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Para mitigar os problemas, a prefeitura intensificou campanhas de conscientização e fiscalização.

• São Paulo, Brasil: Após tentativas fracassadas, o modal voltou às ruas em dezembro de 2024, agora com novas regulamentações e monitoramento mais rigoroso.

• Florianópolis, Brasil: O estacionamento indevido das patinetes gerou preocupação entre os pedestres, levando a prefeitura a estudar medidas como a criação de áreas exclusivas para estacionamento.

Esses exemplos ressaltam a importância de um planejamento urbano que priorize o pedestre e o transporte coletivo. Embora as patinetes ofereçam uma alternativa de mobilidade, sua integração ao ambiente urbano deve ser feita de forma responsável, garantindo a segurança de todos.

Educação e cumprimento das leis

A educação dos usuários e o cumprimento das leis de trânsito são fundamentais para evitar que a solução se torne um problema. Em Salvador, a Semob enfatiza a necessidade de uma expansão planejada, aliada ao compromisso com a segurança.

A mobilidade urbana deve ser inclusiva e segura, garantindo que todos, especialmente os pedestres, possam transitar pela cidade sem riscos desnecessários. A chegada das patinetes elétricas é uma oportunidade para repensar o espaço urbano e promover uma convivência harmoniosa entre todos os modais de transporte.

E, acima de tudo, priorizar quem sempre deveria estar no centro de qualquer planejamento urbano: o pedestre.