Cantoras e compositoras da mais nova geração do pop baiano chamam atenção por transmitir na música o momento reflexivo e solitário da pandemia
Marcelo Argôlo*
Melly, Rachel Reis e Sued Nunes surgem em 2021 como representantes de um novo momento da música baiana (Fotos: Divulgação | Mateus Pirajá | Divulgação9l)
Em 2021, vimos surgir 3 cantoras e compositoras que apresentaram uma novidade na cena de música pop baiana: as canções suaves, mas ao mesmo tempo dançantes. Melly, Rachel Reis e Sued Nunes trouxeram no meio da pandemia um trabalho que dialoga com diferentes referências baianas, mas sem a pulsação energética que marca forte da música feita no Estado.
As artistas têm trajetórias bem distintas, mas a grande visibilidade quase que simultânea que elas tiveram, aproximaram seus caminhos como representantes de um novo momento da música pop baiana. Entrevistei as 3 artistas no meu podcast Pop Negro BA e falamos sobre como elas têm aproveitado a visibilidade para fortalecer as carreiras e, consequentemente, a cena da música pop baiana.
Melly
Jovem artista, de apenas 20 anos, Melly traz um estilo R&B baiano, com influências de Amy Winehouse e de ritmos locais, como o pagodão e o samba-reggae. Ela começou muito cedo na música e aos 6 anos já tocava piano. Depois, ela mudou para o violão e com 17 anos, deu início a carreira como cantora e compositora. Os primeiros lançamentos, gravados em casa, tiveram uma recepção que surpreendeu a artista e impulsionaram novas iniciativas.
Em 2021, a Melly lançou o EP Azul e chamou atenção do público, inclusive de nomes como Liniker, Baco Exu do Blues, Larissa Luz, Luedji Luna e Saulo, com quem ela gravou o single Então Volta.
Muito do reconhecimento que a cantora e compositora conseguiu conquistar se deve à sua maturidade artística, que impressiona pela pouca idade. O estilo de canto, as temáticas tratadas nas composições e a sonoridade particular a tornam um dos destaques da mais nova geração do pop baiano.
Rachel Reis
Direto de Feira de Santana, Rachel Reis mistura as referências locais, como o samba-reggae, o arrocha e o pagode, ao universo do pop e da MPB. Sua lista de inspiração traz nomes como BaianaSystem, Mayra Andrade, Céu, Gilberto Gil, Amy Winehouse e Jorge Ben.
Com um timbre peculiar, que funciona bem nas suas composições e traz uma personalidade para as releituras, Rachel está em fase de se experimentar no palco, rompendo a timidez, e construindo sua identidade artística sem muita preocupação de se encaixar em um rótulo.
O trabalho com a música foi inspiração da mãe, Maura Reys, que foi cantora de arrocha na época da emergência do gênero, e atualmente se dedica à carreira gospel. Sua irmã, Sarah Reis, também se dedica à música como cantora de forró e pisero. Rachel diz que demorou para seguir o caminho da família, mas desde 2020 tem lançado canções autorais e prepara seu primeiro álbum, que deve sair ainda neste primeiro semestre.
Sued Nunes
Com uma musicalidade calcada nas matrizes afro-baianas, especialmente o candomblé, Sued Nunes também começou a se dedicar à música ainda criança em Sapeaçu, sua cidade natal localizada há pouco mais de 150 km de Salvador.
Foi na infância, que ela aprendeu a tocar violão e, na adolescência, passou a cantar em bares e eventos. Foi depois que se mudou para Cachoeira, para cursar história na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que ela passou a desenvolver uma carreira autoral na música.
Em 2021, a artista lançou o álbum Travessia, um trabalho 100% autoral, que conquistou o público através da canção Povoada, uma ladainha que traduz em versos a ancestralidade que acompanha a fé da cantora.
Com seu discurso, Sued relaciona as questões que envolvem a sua vivência de uma mulher negra de candomblé do Recôncavo da Bahia. Descolada de qualquer noção de centro, ela apresenta possibilidades para ir além das limitações que poderiam lhe limitar.
Marcelo Argôlo*
Jornalista e pesquisador musical que acompanha o cenário musical baiano desde 2012. Mestre em Comunicação pela UFRB, ele é autor do livro Pop Negro SSA e mantém ainda o Instagram @popnegroba sobre a música pop negra da Bahia.
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