Cantor e compositor baiano de sucesso reconhecido internacionalmente, Dorival Caymmi teve sua obra reverenciada em filmes e livros. Mas a cineasta Daniela Broitman, premiada pelo documentário “Marcelo Yuka no Caminho das Setas” (2011), queria retratar o homem.
No longa-metragem “Dorival Caymmi - Um homem de afetos”, a diretora se dedicou a mostrar a intimidade do artista. Seu lado pai, marido, ator, pintor, amigo e, sobretudo, um "poeta da vida".
“Acho que também se fala muito dos afetos. O afeto dele pelas palavras, pela música, pelo Brasil, pela Bahia, pela família... São muitos afetos”, avalia Daniela, que também assina roteiro e produção do filme, em entrevista ao g1.
Ela ressalta que sua intenção nunca foi fazer do filme uma homenagem, ainda que indiretamente sirva a esse papel — a estreia nos cinemas será no dia 25 de abril, em meio à semana em que o artista completaria 110 anos se estivesse vivo. Já a pré-estreia ocorre nesta segunda-feira (15), em evento no Cine Glauber Rocha, em Salvador.
O objetivo de Daniela era mostrar a complexidade do homem introspectivo e caseiro por trás da figura artística.
"Eu procurei fazer um filme que também mostrasse o lado sombra que toda pessoa tem. E eu acredito que isso também humaniza muito o personagem, você poder mostrar a sombra que todo mundo tem. Então, tem questões polêmicas no filme, tem ali as questões familiares... Assim, tem aspectos que não são só desse homem incrível, maravilhoso que a mídia reportava e mostrava, mas sim de um homem que é um ser humano e que também tem lado A, lado B".
O documentário começou a ser desenhado em 2015, quando uma aluna de Daniela a convidou para produzir o longa, mas seu mergulho na obra a fez assumir todo o processo. Depois, a descoberta de uma entrevista inédita do artista deu novos contornos ao roteiro, já que Caymmi falava por si, sem intermediários.
O material, que aborda ainda as referências de raiz africana na música do artista e sua espiritualidade no candomblé, foi acrescido com a participação de grandes estrelas das artes. Caetano Veloso, Gilberto Gil e a filha Nana Caymmi são alguns dos nomes que contribuem com histórias sobre o compositor de sucessos como "O que é que a baiana tem?", "Samba da minha terra" e "Marina".
Lançado em 2019 em festivais e mostras de cinema, o produto final rendeu a Daniela prêmios nacionais e internacionais — Melhor Filme do Júri Popular e Prêmio Especial do Júri no In-Edit Festival Internacional do Documentário Musical e o Crystal Lens Award no Inffinito Brazilian Film Festival (EUA). A realização é da Videoforum Filmes, com produção da Spcine e Canal Brasil e distribuição da Descoloniza Filmes.
Apesar dos títulos, uma pandemia e dificuldades de produção comuns à cena audiovisual atrasaram a estreia no circuito comercial, o que não prejudica a recepção da obra, garante Daniela.
"Caymmi e a música dele são tão atemporais que o filme se tornou atemporal também. Você vendo o filme hoje, há cinco anos ou daqui 20 anos, ele tem o mesmo significado em termos de relevância da obra de Caymmi".
Para a cineasta, o que muda é o olhar das diferentes gerações de espectadores e admiradores da obra do artista ao documentário. Ao retratar essa atemporalidade por meio dos afetos construídos pelo músico, o filme contribui para a preservação da memória do artista e celebração de seu legado. Missão cumprida.
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